Acho que a minha vida é algo completamente surreal. Tantas coisas improváveis acontecem comigo que em uma certa época eu costumava achar que isso era comum. Mas quando eu contava meus 'causos' para algum amigo ele invariavelmente me taxava de mentiroso compulsivo.
Hoje aconteceu mais um fato surreal. Desses que se eu contar ninguém acredita, por isso prefiro nem contar pra ninguém. Aliás não era nem para eu escrever aqui. Afinal, esse blog não é um querido diário, ora bolas. Mas foda-se: vou escrever assim mesmo.
Primeio um pouco de
background para vocês captarem o surrealismo da situação. Quem já lê esse blog a um tempinho sabe que tem essa ex-namorada que anda mexendo com a minha cabeça. Fazia um ano que a gente não se via, o que é normal, afinal moramos em cidades diferentes. A coisa de 3 semanas atrás eu aloprei e mandei um email pra ela dizendo que estava com saudades e que ainda a amava, entre outras coisas, mas a resposta que recebi não foi das mais animadoras (quem quiser saber qual foi, procure o post de 24 de novembro). Depois ela se arrependeu e pediu desculpas, e mantivemos algum contato via email e ICQ, mas nada além disso, afinal, ela está de namorado novo, e segundo as suas próprias palavras, ele é muito melhor que eu.
Voltando para o dia de hoje. De manhã, eu dei uma passadinha na academia para fazer minha avaliação física, e depois passei no guichê da companhia de ônibus para comprar minha passagem (trabalho no Rio). Eu deveria pegar o ônibus de 10:30, mas resolvi comprar a passagem para o ônibus de 11:00 para poder tomar banho e me arrumar com mais calma. Voltei pra casa, tomei banho, me arrumei, e fui para o ponto de ônibus; o ônibus passou, fiz sinal, ele parou, entrei, entreguei o bilhete para o motorista, e me dirigi à minha poltrona. Quando estava arrumando as minhas coisas no bagageiro, ouvi uma voz familiar: "Esqueleto!" (meu nome não é Esqueleto, óbvio, mas não vou dizer aqui meu verdadeiro nome). Olhei para a direção da voz, e nesse momento, devo ter feito a cara mais engraçada do mundo.
Era ela. Fiquei durante uns 3 segundos com cara de bunda, e depois fui cumprimenta-la. Fiquei sabendo que seu namorado mora na mesma cidade que eu, e ela tinha passado o fim de semana com ele. Hoje de manhã ela foi ao dentista, também na mesma cidade, e por isso estava pegando o ônibus das onze. Cacete. Depois de um ano sem vê-la - um ano! - , eu a encontro no lugar mais improvável possível, dentro de um ônibus intermunicipal! E logo depois de todas as cartas que mandei pra ela! (OBS: esse é o detalhe surreal da história, entenderam? Por favor, finjam espanto). Eu fiquei tão baqueado que nem sabia o que falar direito. Trocamos meia dúzia de palavras e depois voltei para minha poltrona, que era longe da dela - os assentos nesse ônibus são numerados.
Mil pensamentos me ocorriam como num turbilhão, mas durante a viagem, que leva cerca de uma hora e meia, tive tempo de esfriar a cabeça. Quando chegamos ao nosso destino falamos com mais calma e dei um abraço demorado e apertado nela. Como era hora do almoço a convidei para almoçar. Fomos para um restaurante lá perto e ficamos quase duas horas conversando, e durante esse tempo, apesar de termos passado um ano distantes parecia que não faziam nem quinze minutos desde a última vez que nos vimos. Todos os trejeitos, todos os detalhes estavam lá. O jeito dela andar, de arrumar o cabelo, de se olhar em todos os espelhos que encontra. O jeito como ela ria das minhas piadas sem graça. Estava tudo tão ótimo e tão maravilhoso que resolvi nem tocar em assuntos sentimentais com ela, pelo risco de estragar o clima.
Depois fui leva-la até o ponto onde ela pegaria o ônibus para a faculdade. Chegamos, o ônibus passou, demos dois beijinhos de despedida, e então ela se foi. Mas não fiquei triste. As pessoas na rua devem ter achado que eu era maluco, mas eu fui andando até o escritório com um tremendo sorriso de bobo no rosto.
Não sei quem foi o responsável por esse encontro: o destino, o acaso, ou Deus. Mas quem quer que seja que tenha planejado o dia de hoje, só tenho uma coisa a dizer: muito obrigado, hoje um homem ficou muito feliz.