quinta-feira, janeiro 23, 2003

A Grobo está se superando em matérias de vinhetas. Depois daquela vinheta de fim de ano horrível com a Vanessa Jackson, sobre a qual eu já falei em um post anterior, a Grobo conseguiu fazer outra pior ainda: a vinheta de carnavel com a Grobeleza grávida. Não, eu não estou brincando, botaram a Valéria Valenssa para sambar pelada e grávida.

A trilha sonora da vinheta é aquela mesmo sambinha chulé que eles repetem todo ano "vem, pra ser feliz, eu tô no ar to globeleza". Aí fica passando imagens da Grobeleza em vários carnavais, e você vê como tudo aquilo é ridículo, as lantejoulas, os penteados, os closes na bunda, etc.

E então vem o inesperado. A música muda repetinamente do samba para uma música instrumental esquisita, e aí, tchã-tchã-tchãm: aparece a globeleza grávida!!! E eles botam uma musiquinha 'sentimental', como se isso fosse a coisa mais emocionante do mundo.

E o detalhe é que o filho é do Hans Donner. Imagina que coisinha feia que não vai sair dali.

terça-feira, janeiro 21, 2003

Fim

Calma. Não se assustem com o título, este não é o fim do blog. Trata-se do fim de uma história muito mal resolvida entre mim e minha ex-namorada.

Sim, acabou. Estou vazio por dentro. Até recentemente, sempre que pensava nela eu sentia que ainda havia alguma coisa. Que ainda a amava. Mas depois de tanto tempo sendo maltratado, ouvindo que o novo namorado dela é melhor que eu, que ela é muito feliz agora, e que não conseguia ser comigo, que ela nunca me amou de verdade, ela conseguiu. Parabéns, M., você matou o amor que tinha dentro de mim.

Durante esses dois meses, eu servi para inflar o seu ego. Para ela, devia ser muito bom ter um homem se arrastando aos seus pés. Tanto que sempre que eu demonstrava estar cansado, sempre que eu fraquejava, ela insinuava que ainda gostava de mim. Mas na mesma medida que isso fazia bem para o ego dela, fazia mal para o meu, porque sempre que eu sentia esperança, ela me lembrava de como o novo namorado era maravilhoso.

Não estou com raiva. Não estou triste. Não sinto mais nada por ela. Como eu falei, é o fim. O fim de uma história sem final feliz.

domingo, janeiro 19, 2003

Hoje eu entendi o verdadeiro significado da palavra bíblica "regozijar". Foi quando eu me lembrei, já as 10 horas da noite, que amanhã é feriado no Rio e portanto não precisarei ir trabalhar. Se este momento fosse uma passagem bíblica, ela seria assim:

E quando Esqueleto preparava-se para dormir, eis que o Anjo Gabriel surgiu em sua frente e disse: "Não precisais dormir agora, pois não tereis que trabalhar amanhã", e todos se regozijaram".
Devido ao grande número de mulheres que se encontram perdidamente apaixonadas pelo Smeagles (alter-ego do Gollum, o monstrinho feio do Senhor dos Anéis) eu me sinto obrigado a informar que sou muito mais bonito que o Smeagles. Então, por favor, apaixonem-se por mim.
Desculpe-me, pessoal. Eu não estava no clima para postar nesta última semana. É que sábado passado um amigo de infância teve uma parada cardíaca e foi parar no hospital. Ele está sedado desde então, devido a um edema cerebral. Os médicos acreditam que ele tem uma má formação congênita que pode causar arritimia cardíaca, afinal, não é nada comum ter uma parada cardíaca aos 24 anos.

sexta-feira, janeiro 10, 2003

Eu não gosto da Vanessa Jackson. Não sei o porquê exatamente. Acho que a minha antipatia por ela é por causa daquela voz chata, além das caretas que ela faz quando canta - que devem ser as mesmas de quando ela faz cocô.

Por outro lado, eu adoro crianças. Tenho duas irmazinhas que eu simplesmente amo de paixão. Sou um irmão coruja mesmo. Levo pra passear, compro presentes, faço tudo. Mas não gosto de comerciais de TV com crianças, me soa falso demais.

A Globo, no ano que passou, conseguiu combinar duas coisas péssimas na sua vinheta de fim de ano: a Vanessa Jackson cantando 'hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem quiser', com criancinhas, também cantando.

Não preciso dizer que achei horrível.
Depois do sucesso estrondoso de Cidade de Deus, o diretor Fernando Meirelles já está finalizando os acordos para rodar a continuação, que será chamada de Cidade de Deus 2 - A Missão, e será seguida de um terceiro filme, Cidade de Deus 3 - O Resgate.

quarta-feira, janeiro 08, 2003

Acabei de ler o Drácula de Bram Stocker e também já li o livro Cidade de Deus, de Paulo Lins. Tudo isso nesse intervalo de tempo em que não postei nada aqui. Aliás, gostaria de pedir desculpa para os poucos que me lêem, mas sabem como é, com tanta coisa pra fazer no ano novo realmente não sobra tempo para se animar e escrever no blog. E quando comecei este blog eu decidi que não ia cometer o mesmo erro do blog anterior, o de escrever por obrigação mesmo não estando a fim.

Bem, mas eu já estou mudando de assunto, eu queria falar dos livros que li. O Drácula é muito bom, mais pela ambientação do mito do vampirismo do que pela história em si, que eu confesso que achei meio fraca. É tudo muito óbvio, o que faz o livro perder um pouco da graça. Mas ainda assim, ler a história original do Conde Drácula e se imaginar nos corredores do seu castelo na Transilvânia é sensacional.

O Cidade de Deus, por sua vez, é ótimo em todos os sentidos. Daqueles livros que você pega e não consegue mais largar, e acaba levando para tudo quanto é lugar pra ler sempre que dá um tempinho. Se você viu o filme e acha que por isso ler o livro não teria graça, não se preocupe: o livro, por incrível que pareça, é muito melhor que o filme! Alguns personagens são muito mais desenvolvidos no livro do que no filme, enquanto que outros que têm muito destaque no filme quase não aparecem no livro. Além disso, existem muitos personagens que só aparecem no livro e nem são citados no filme. O próprio desenrolar da história é completamente diferente, mas muito envolvente. O autor abusa do linguajar usado pela malandragem carioca, o que torna a leitura uma experiência única. Recomendo.

Aliás, agora que falei do linguajar da malandragem me lembrei de um outro ótimo livro, Estação Carandiru do doutor Dráuzio Varella. É, aquele mesmo do fantástico. O cara trabalhou durante anos no Carandiru num projeto voluntário de prevenção de AIDS entre os presos, e o resultado é um livro fascinante.

Bem, mas este post já está maior do que deveria. Depois escrevo mais.

sexta-feira, dezembro 27, 2002

Resoluções de Ano Novo

Eu sempre achei que resoluções de ano novo são aquelas coisas que a gente gostaria de fazer, mas sabe que não vai cumprir. Por isso, nunca dei muita atenção pra esse tipo de coisa. Mas esse ano de 2003 estou querendo inovar. E nada melhor do que começar fazendo algo que nunca fiz antes, como por exemplo, resoluções de ano novo. E espero que eu consiga cumpri-las!

  1. Arrumar uma namorada.
    É, cansei de ficar sofrendo pelo que já aconteceu. E também cansei de só ficar, sem assumir compromisso. Quero arrumar uma esqueletinha que me ame. Interessadas, me mandem um email ;o)
  2. Levar a academia a sério!
    Nesse ano que se inicia eu vou malhar religiosamente três dias por semana! E vou ficar sarado, vou ser um esqueleto gostosão hehe :o)
  3. Nada de lamentações
    Vou parar de reclamar da vida. Aliás, cabe aqui um esclarecimento: eu não sou assim não, viu? Foi só uma fase mas que já passou. Nada de choro em 2003!
  4. Acabar o projeto final da faculdade!
    Dá pra acreditar? Já fiz o mais difícil, que é acabar todas as matérias, mas agora estou enrolando no projeto final, e sem ele não me formo. Vou tomar vergonha na cara ano que vem e terminá-lo.
  5. Beber menos Coca Light
    Eu sou um verdadeiro viciado em Coca Light, o que não faz muito bem para meu organismo. Além de causar um crônico problema de gases (não acredito que estou falando isso aqui!), a Coca Cola também faz um certo mal para o estômago. Está fora da minha dieta em 2003.
  6. Ler mais
    Nessa época de faculdade eu estava lendo pouco. Isso vai mudar em 2003. Aliás, já está mudando. Recentemente já li Crime e Castigo, de Dostoievsky, reli Metamorfose, de Kafka, li dois livros ótimos de crônicas do Vinícius de Moraes, e estou lendo agora o Drácula de Bram Stoker (nada a ver com a Vampiromania que a Globo inventou).
  7. Comprar meu carro
    Tô de saco cheio de ter que pegar o carro dos meus pais. Vou comprar o meu próprio, apesar de ser uma facada fenomenal nas minhas economias
Acho que por enquanto é só. Não vou escrever mais senão acabo não cumprindo nem metade da minha lista!

Ah, e no fim do ano que vem, me lembrem de olhar essa lista para ver quais itens eu consegui cumprir!
No fim de tudo, o que me restou foram as lembranças. Não tenho mais o seu sorriso, não tenho mais a sua voz no telefone. Não tenho mais a felicidade de te encontrar, linda, de noite depois do trabalho. Não saio mais com você, nem viajo mais com você. Não vou mais contigo no shopping, no cinema, nem fico mais contigo em casa.

Não ter mais nada disso me causa uma profunda tristeza. Você foi a minha luz e minha vida, e elas foram embora junto contigo.

Mas eu lembro. Triste, de noite, no quarto, eu lembro. Lembro dentro do ônibus, ou no trabalho, sentado em frente ao computador. Tudo o que faço ou deixo de fazer me faz lembrar de você.

A saudade que sinto me deixa triste. Não uma tristeza agoniada, mas uma tristeza tranqüila, daquelas que um homem pode carregar, silencioso, pela vida toda. Sinto que daqui pra frente, o resto da minha vida vai ser assim, mas sigo em frente, porque um dia eu te tive, e um dia nós nos amamos.

E só isso já faz toda a minha vida ter valido a pena.

quarta-feira, dezembro 25, 2002

Feliz Natal!

quarta-feira, dezembro 18, 2002

Da série Coisas hediondas que presenciei

Acabo de ouvir Paula Toller cantando cover do Claudinho & Buchecha. Com direito a "tchurudurunthcacundurum". O refrão é mais ou menos assim: "Quero te encontrar / Quero te amar / Você pra mim é tudo / Minha terra meu céu meu mar".

Agora mentaliza, ou como diria o Seu Saraiva, realiza. É ou não é hediondo?

terça-feira, dezembro 17, 2002

Dança do Poder, estrelando Lula!

segunda-feira, dezembro 16, 2002

Acho que a minha vida é algo completamente surreal. Tantas coisas improváveis acontecem comigo que em uma certa época eu costumava achar que isso era comum. Mas quando eu contava meus 'causos' para algum amigo ele invariavelmente me taxava de mentiroso compulsivo.

Hoje aconteceu mais um fato surreal. Desses que se eu contar ninguém acredita, por isso prefiro nem contar pra ninguém. Aliás não era nem para eu escrever aqui. Afinal, esse blog não é um querido diário, ora bolas. Mas foda-se: vou escrever assim mesmo.

Primeio um pouco de background para vocês captarem o surrealismo da situação. Quem já lê esse blog a um tempinho sabe que tem essa ex-namorada que anda mexendo com a minha cabeça. Fazia um ano que a gente não se via, o que é normal, afinal moramos em cidades diferentes. A coisa de 3 semanas atrás eu aloprei e mandei um email pra ela dizendo que estava com saudades e que ainda a amava, entre outras coisas, mas a resposta que recebi não foi das mais animadoras (quem quiser saber qual foi, procure o post de 24 de novembro). Depois ela se arrependeu e pediu desculpas, e mantivemos algum contato via email e ICQ, mas nada além disso, afinal, ela está de namorado novo, e segundo as suas próprias palavras, ele é muito melhor que eu.

Voltando para o dia de hoje. De manhã, eu dei uma passadinha na academia para fazer minha avaliação física, e depois passei no guichê da companhia de ônibus para comprar minha passagem (trabalho no Rio). Eu deveria pegar o ônibus de 10:30, mas resolvi comprar a passagem para o ônibus de 11:00 para poder tomar banho e me arrumar com mais calma. Voltei pra casa, tomei banho, me arrumei, e fui para o ponto de ônibus; o ônibus passou, fiz sinal, ele parou, entrei, entreguei o bilhete para o motorista, e me dirigi à minha poltrona. Quando estava arrumando as minhas coisas no bagageiro, ouvi uma voz familiar: "Esqueleto!" (meu nome não é Esqueleto, óbvio, mas não vou dizer aqui meu verdadeiro nome). Olhei para a direção da voz, e nesse momento, devo ter feito a cara mais engraçada do mundo.

Era ela. Fiquei durante uns 3 segundos com cara de bunda, e depois fui cumprimenta-la. Fiquei sabendo que seu namorado mora na mesma cidade que eu, e ela tinha passado o fim de semana com ele. Hoje de manhã ela foi ao dentista, também na mesma cidade, e por isso estava pegando o ônibus das onze. Cacete. Depois de um ano sem vê-la - um ano! - , eu a encontro no lugar mais improvável possível, dentro de um ônibus intermunicipal! E logo depois de todas as cartas que mandei pra ela! (OBS: esse é o detalhe surreal da história, entenderam? Por favor, finjam espanto). Eu fiquei tão baqueado que nem sabia o que falar direito. Trocamos meia dúzia de palavras e depois voltei para minha poltrona, que era longe da dela - os assentos nesse ônibus são numerados.

Mil pensamentos me ocorriam como num turbilhão, mas durante a viagem, que leva cerca de uma hora e meia, tive tempo de esfriar a cabeça. Quando chegamos ao nosso destino falamos com mais calma e dei um abraço demorado e apertado nela. Como era hora do almoço a convidei para almoçar. Fomos para um restaurante lá perto e ficamos quase duas horas conversando, e durante esse tempo, apesar de termos passado um ano distantes parecia que não faziam nem quinze minutos desde a última vez que nos vimos. Todos os trejeitos, todos os detalhes estavam lá. O jeito dela andar, de arrumar o cabelo, de se olhar em todos os espelhos que encontra. O jeito como ela ria das minhas piadas sem graça. Estava tudo tão ótimo e tão maravilhoso que resolvi nem tocar em assuntos sentimentais com ela, pelo risco de estragar o clima.

Depois fui leva-la até o ponto onde ela pegaria o ônibus para a faculdade. Chegamos, o ônibus passou, demos dois beijinhos de despedida, e então ela se foi. Mas não fiquei triste. As pessoas na rua devem ter achado que eu era maluco, mas eu fui andando até o escritório com um tremendo sorriso de bobo no rosto.

Não sei quem foi o responsável por esse encontro: o destino, o acaso, ou Deus. Mas quem quer que seja que tenha planejado o dia de hoje, só tenho uma coisa a dizer: muito obrigado, hoje um homem ficou muito feliz.

domingo, dezembro 15, 2002

Meninas que um dia amei
E que não sei mais onde estão
Hoje eu queria dizer
Que amo todas vocês.

Menina alegre e insegura
Menina carente de amor
Amo demais vocês duas
Mesmo daqui onde estou.

Menina tímida e linda
Menina que me desprezou
Meu coração por vocês
Ainda bate com dor.

Menina que me amava
E que a mim se entregou
Ainda te ouço falar:
"Eu te amo, meu amor".
Por que tantas mulheres gostam do Álvares de Azevedo?

sexta-feira, dezembro 13, 2002

Não sou exatamente um fã do Joelmir Betting. Pra dizer a verdade, não sou fã de nenhum economista, :o) mas de vez em quando leio a coluna dele no Globo, apesar de gostar mais da Miriam Leitão. E na coluna de hoje achei um textozinho legal sobre o Henrique Meirelles, futuro presidente do Banco Central.

Senhor da moeda

A escolha de Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central (BC) é politicamente ousada. Ousada politicamente porque o nome escolhido foi pinçado, digamos assim, do partido de FHC e do hábitat do FMI. E porque foi escolhido justamente um ?banqueiro internacional?, segundo o nariz torcido da galera petista.

Vamos aos descontos. Henrique Meirelles, 57 anos, não é um banqueiro internacional. É um bancário brasileiro recém-aposentado e de grande sucesso na carreira profissional. Não contente em presidir um banco estrangeiro no Brasil, o Banco de Boston, foi o primeiro estrangeiro a presidir a matriz mundial de um banco americano, o próprio Boston.

(...)

No mais, para Lula e a cúpula do partido, a carteirinha do PSDB não passa de um detalhe para todo um projeto de reconstrução nacional. Detalhe suficiente, porém, para provocar um interessante diálogo na tarde de ontem entre um líder tucano e um cacique baiano.

O tucano: "Tenho duas notícias de última hora. Uma boa e outra má." O cacique: "Solta a boa!" O tucano: "O Henrique Meirelles, aquele do Banco de Boston, será o novo presidente do Banco Central." O cacique: "E qual é a notícia ruim?" O tucano: "Bem, o Lula e o PT estão montando uma bela máquina de governar e podem fazer um magnífico governo logo de cara. Já pensou nossas chances para 2006?"


Gostei. Tem gente que vai concordar, outros vão discordar. Mas é legal ver as Organizações Globo apaixonadas pelo Lula, apesar dos motivos não serem os mais nobres :o)

O restante da coluna está aqui. Quem quiser ler corra, antes que mude.

quinta-feira, dezembro 12, 2002

No relógio digital
Ao lado da minha cama
O tempo não passa mais.

Os grilos e as cigarras
Já pararam de cantar.
E até os passarinhos
Abandonaram seus ninhos
E foram pra outro lugar.

Até a chuva parou,
Deixando a terra molhada,
E as nuvens carregadas
E todas as poças d'água
Refletindo o céu cinzento
Como espelhos da minha alma
E da minha solidão.
Estou sentindo algo dentro de mim - e que ninguém me venha com piadinhas. Sinto que algo está prestes a explodir. O meu mundo vai mudar pra sempre. Algo muito importante está prestes a acontecer, só não sei se isso é bom ou é ruim.
Se tu me amas, ama-me baixinho
não o grites de cima dos telhados
deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim !
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve,
e o amor mais breve ainda...

(Mário Quintana)

Desavergonhadamente roubado daqui.

terça-feira, dezembro 10, 2002

Acho que essa moça aqui me confundiu com outra pessoa. Fala sério. Nessas horas a minha porção 'vai se fuder' quase emerge, mas eu respiro fundo, conto até 10, e deixo tudo pra lá.

Agora, bicha é a mãe.

segunda-feira, dezembro 09, 2002

"O material do poeta é a vida, e só a vida, com tudo o que ela tem de sórdido e sublime. Seu instrumento é a palavra. Sua função é a de ser expressão verbal rítmica ao mundo informe de sensações, sentimentos e pressentimentos dos outros em relação a tudo o que existe ou é passível de existência no mundo mágico da imaginação. Seu único dever é fazê-lo da maneira mais bela, simples e comunicativa possível, do contrário ele não será nunca um bom poeta, mas um mero lucubrador de versos"

Trecho de Sobre a Poesia, de Vinícius de Moraes

domingo, dezembro 08, 2002

Trecho de um texto do Mr. Manson, do Cocadaboa, sobre o Michael Jackson.

"Pessoalmente, já desconfiava que havia algo errado com esse cara desde quando ele inventou o "moonwalking". Eu era apenas uma criança e não entendia nada do mundo, mas porra, o maluco parecia estar andando para frente, mas na verdade andava para trás! Tem coisa mais bizarra do que isso? Sério! Qualquer imbecil pode ser pedófilo, andrógino ou trocar de raça, são todas coisas que se aprendem na escola, mas para andar de costas é preciso ter algum tipo de desvio comportamental muito grave."

Morri de rir. O resto está aqui.
A dor vai passando,
E a ferida vai sarando,
E a vida continua.

E você não ocupa
Mais meus pensamentos.
E não choro por amor.

E já não me sinto triste,
Até voltei a rir.
E voltei a gostar do sol.

E a dor que eu sentia,
Essa já passou.
E a ferida sarou.

E a vida?
Bem, a vida
Ainda não acabou.

sábado, dezembro 07, 2002

Nem Sempre se Pode ser Deus
Titãs

Não é que eu me arrependi
Eu tô com vontade de rir
Não é que eu me sinto mal
Eu posso fazer igual
Não é que eu vou fazer igual
Eu vou fazer pior!

Nem sempre se pode ser Deus!
Nem sempre se pode ser Deus!
Por isso que estou gritando
Por isso que estou gritando
Por isso que estou gritando
Por isso que estou gritando!

Não é que eu passei do limite
Isso pra mim é normal
Não é que eu me sinto bem
Eu posso fazer igual
Não é que eu vou fazer igual
Eu vou fazer pior!

Nem sempre se pode ser Deus!
Nem sempre se pode ser Deus!
Por isso que estou gritando
Por isso que estou gritando
Por isso que estou gritando
Por isso que estou gritando!
Não é por não falar
Titãs

Não é por não falar
Em Felicidade
Que eu nãe gosto de Felicidade.
Não é que eu não goste
De felicidade
É por não falar em felicidade.
E é por falar
Em felicidade
Que eu não gosto de falar
Em felicidade.
Alguém por favor avisa a Marisa Monte que ela náo precisa ficar fazendo uuuu-uuuu-uuu nas músicas pra mostrar que canta bem. Quando ouço os uuuus de Já Sei Namorar dá vontade de jogar a caixa de som na cabeça dela. :o)
Adicionei mais uns blogs na lista aí do lado. O Menina Com Uma Flor merecia entrar só pelo nome, que é inspirado em um texto lindo do Vinícius de Moraes. Mas além de ter um nome muito bem escolhido, o texto dela também é ótimo. Entra com louvor. Tem também o blog da Suzy Bee, que é sensacional. Entra também, apesar dessa menina estar ameaçando parar o blog. Ai dela se fizer isso! E pra fechar, também coloquei o Dia a Dia da Bibia, blog muito inteligente e bem humorado. Entra na lista porque sempre que leio me ajuda a levantar meu astral.

quinta-feira, dezembro 05, 2002

Chegar no trabalho, ligar o Winamp no modo Shuffle e ganhar de presente como primeira música a Master of Puppets, do Metallica.

São essas coisas que me fazem acreditar que a vida ainda é bela!

quarta-feira, dezembro 04, 2002

Cansei de sofrer. Quero conhecer uma esqueleta bonitinha que me faça feliz, quero ter com elas muitos esqueletinhos e vê-los correndo pela casa. Mas quero que isso venha na hora certa. Enquanto essa esqueletinha não vem, quero me divertir com meus outros amigos esqueletos, sair para chacoalhar os ossos.

Tem uma esqueleta aí não saía da minha cabeça já faz um ano. O nosso fim foi meio esquisito e por isso fiquei com um sentimento mal resolvido, até porque eu não sabia o que ela sentia por mim. Ficava aquela dúvida: "o nosso relacionamento foi tão legal, a gente se dava tão bem. E se ela ainda gosta de mim? E se a gente pudesse reeditar tudo isso?". Só que aí ela veio e falou todas aquelas coisas monstruosas. E a dúvida sobre ela gostar de mim ou não acabou. E com isso foi embora também a possibilidade de voltarmos. E tendo isso ido embora, também não sofro mais tanto por ela.

Nunca fui dado a depressões mas estive me sentindo muito mal nos dias que passaram. Confesso que até chorei por ela. Logo eu, quem me conhece acha difícil de acreditar numa coisa dessas. Mas foi bom, porque depois de chorar me senti novo, como se estivesse tomado um banho gelado e depois passado por uma sessão de shiatsu. E agora não fico mais me remoendo na cama por causa dela, não escrevo mais versos apaixonados para ela.

Sei que perdi muita coisa nessa história toda - mas também ganhei algo muito importante: a minha felicidade de volta.

sexta-feira, novembro 29, 2002

definir o amor é dever dos poetas. a nós, meros mortais, só resta senti-lo.
se foi a luz
daquela vela

olhei então
pela janela

e vi na lua
o rosto dela.
amo
aquilo
que não tenho.
Despedida

Não sei como farei isso
Mas quero esquecer você.
Não quero mais sonhar contigo,
Nâo quero ver seu sorriso
Sempre que fechar os olhos,
E nem ouvir a sua voz
Por engano, quase dormindo.

Quero ser feliz de novo.
Não quero mais amar você.
E se a gente se encontrar
Quero ver só uma amiga
E não um amor perdido
Quer faz meu coração doer.

Agora vou cuidar de de mim,
Já sofri demais por você.
vou comprar roupas novas,
Quem sabe até uma TV,
Vou rever velhos amigos,
Vou beber, me divertir,
Conhecer outras pessoas,
Outras mulheres lindas,
E uma até vai ter por mim
O amor que você teve
E eu não soube manter.

Um dia serás passado
A dor vai desaparecer.
Serás só uma ferida
Transformada em cicatriz
Das grandes, que nos dão vergonha
E não deixamos ninguém ver.

E às vezes, só as vezes,
A cicatriz vai doer.
E nesses dias, sozinho,
Posso até chorar baixinho,
Que ninguém vai perceber.
E se alguém notar não importa,
Pois não vai saber o porquê.
Mas eu vou saber a razão:
É saudade de você.

quinta-feira, novembro 28, 2002

Te amo tanto,
e no entanto,
todo o encanto,
desfez-se em pranto.

Restou-me apenas,
a duras penas,
dores serenas,
lágrimas plenas.

queria sim
você pra mim
mas foi assim
o nosso fim.

quarta-feira, novembro 27, 2002

Drummond! Quem te deu o direito de, muito antes de eu nascer, escrever um poema que diz tão claramente e tão perfeitamente tudo o que eu sinto hoje?

Pelo menos você tinha que pedir minha autorização.
Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.



Carlos Drummond de Andrade

domingo, novembro 24, 2002

Terça passada eu mandei um email para ela. É, uma carta de amor mesmo. Me parecia loucura fazer isso, depois de um ano sem nos falarmos, mas não estava mais conseguindo aguentar a saudade. Peguei um texto que tinha escrito para ela num caderno, digitei no computador, sem nem parar para pensar no que estava fazendo, cliquei em 'Enviar' e pronto. Não tinha mais volta.

A quarta feira passou sem nenhuma resposta. Eu não sabia se isso era bom ou ruim. Na quinta feira, de manhã, depois de quase um ano, ela apareceu online no meu ICQ. Fiquei muito feliz por falar com ela, mesmo sendo de uma maneira tão impessoal. Matei um pouquinho da saudade, perguntei da família, da faculdade, e ela se mostrou muito simpática, disposta a conversar, perguntou da minha família também, gostou de saber que eu já tinha terminado a faculdade.

Me enchi de esperança. Perguntei se ela tinha recebido o email, e ela disse que sim, mas que achou difícil de acreditar no que estava escrito. Eu falei que então era melhor eu nem mandar as outras coisas que tinha escrito pra ela. E ela disse para eu mandar sim. Eu falei que quando chegasse em casa, de noite, eu mandava pra ela.

Cheguei em casa, digitei os melhores textos, e mandei por email. Passou-se a sexta e o sábado sem nenhuma resposta. Eu não sabia se ligava, se deixava tudo para lá. Eu já estava quase me decidindo a telefonar quando ela entrou no ICQ de novo. Dessa vez, entretanto, ela estava fria. Respondia as minhas mensagens secamente. Tive um mal pressentimento, mas continuei conversando. E aí se deu o seguinte diálogo:

Ela: lembra qdo vc falou q se eu te perdoasse ja seria uma coisa boa?
Eu: sim
Ela: eu nao sei... acho q nao perdoo
Eu: se você não perdoar eu entendo, porque eu eu sou o culpado por tudo isso
mas por que vc nao perdoa?
Ela: se vc diz q me ama, como me deixou sofrer, sabendo q podia me ajudar?
vc nao se importou com o q eu sentia
Eu: dentro da minha cabeça era errado o que eu fiz, e depois daquilo eu achava que não merecia o seu perdão, e que não merecia você
eu também sofri cara, sofro até hoje, eu tava aqui agora pensando em vc
fico tentando arrumar coisas pra fazer, só pra desviar meu pensamento pra outras coisas, mas não tenho vontade de fazer nada
Ela: eu nao vejo motivo pra perdoar e aceitar de volta quem fez isso tudo comigo. e nao foi uma vez so, nao... foram duas. fora o q rolava durante o namoro
Eu: cara, o pior de tudo é que você tem razão
eu não tenho como argumentar, não tenho nada pra tentar te convencer, porque você está certa! vc nao tem mesmo nenhum motivo pra me aceitar
Ela: mas a gente teve momentos bons
Eu: você foi a pessoa que mais me fez feliz na vida aliás, na verdade vc foi a única pessoa que me fez feliz de verdade
e isso o que mais me dói, porque eu tive esses momentos bons, esses momentos tão felizes, e joguei tudo isso fora
Ela: e vc era a pessoa q me deixava nsegura, sem saber se no dia seguinte meu namorado ainda ia gostar de mim, sem saber se eu ia ve-lo no fim de semana ou se ele ia preferir ficar em casa vendo tv (pelo menos eh o q eu achava q vc fazia)


Depois de várias e várias mensagens em que ela enumerou todos os meus defeitos, dizendo que o novo namorado não tinha nenhum deles, e que todas as coisas boas que eu tinha são muito melhores com ele, ela ainda soltou essa:

e agora vc vem falando essas coisas
vc acha q pode entrar e sair da minha vida quando quiser? nao
agora nao tem mais lugar pra vc
eu fiquei surpresa com os emails pq eu nunca imaginei q vc fosse ter sentimentos
e agora vem com essa de mandar um email falando de "historia de amor", dizendo a palavra "linda" cem vezes etc e tal. eh muita cara de pau


E em seguida ela foi embora.

Não preciso dizer que me senti um lixo. Durante 10 minutos, até escrever um email para ela, que reproduzo aqui.

Obrigado.

Eu queria te agradecer por tudo o que vc falou. A verdade dói mas é melhor do que viver na mentira. Eu tinha um monte de ilusões na minha cabeça e o que vc falou vai ajudar a desfazer todas. O tom ríspido, as palavras duras (que eu merecia), vieram bem a calhar, pois eu precisava mesmo de uma demonstração contundente de tudo de mal que eu tinha feito por você. Quem sabe com essa conversa de hoje você não tenha me ajudado ainda mais a ser um namorado melhor no futuro? :o)

Vai levar tempo mas vai passar, e você vai passar a ser apenas uma boa lembrança. Vou ficar triste sim, porque tudo o que eu sinto por você é verdadeiro, mas agora é um amor sem esperança. E o amor sem esperança um dia acaba.

Só me deixa triste não ter o seu perdão. Mas sei que nem isso eu mereço. Aliás, quando eu coloquei no subject daquele primeiro email a frase "não sei o que estou fazendo", eu estava pensando exatamente nisso. Eu não tinha nenhuma razão em mandar esses textos para você, devia tê-los guardado comigo.

Então é isso, obrigado por tudo. Sem ironias, você me ajudou muito. Era tudo o que eu precisava ouvir. E como um dia o tempo vai apagar o meu amor, espero que um dia ele apague o seu ódio.

Beijos
Esqueleto


Depois de mandar esse email me senti melhor. Desentalei muita coisa da garganta depois dessa semana que passou.

Obrigado, de novo.

segunda-feira, novembro 18, 2002

Crianças

Crianças são fofinhas. Crianças são puras. Difícil ver uma criança brincando e não sorrir. "Deixai vir a mim as criancinhas", disse uma vez o sábio que moldou a filosofia ocidental dos últimos dois mil anos.

No entanto, crianças são cruéis. Crianças gostam de jogar sal em cima da lesma para ver ela derretendo. Crianças pegam o gato pelo rabo e rodam no ar. Crianças são más até com outras crianças. Se alguma criança na escola é diferente, seja por causa de uma orelha de abano ou por causa de um nariz grande, pode crer que ela vai ser escolhida para cristo e vai ser objeto de escárnio dos inocentes coleguinhas. Se uma criança é mais pobre e vai com os uniformes mais gastos, os colegas a humilham por ter as roupas mais novas e os brinquedos mais caros.

Se as crianças são o ser humano no estado puro, não me surpreendo do mundo estar do jeito que está. Bom selvagem uma ova, o ser humano puro é muito mau.

domingo, novembro 17, 2002

Rafael caminhava de volta para casa no meio da madrugada, através das ruas desertas e silenciosas, voltando de uma noite de bebedeira em casa de amigos. Um forte nevoeiro tomava conta da cidade, e ele mal podia ver alguns metros a sua frente. A luz amarelada das lâmpadas de mercúrio que se infiltrava pelo nevoeiro conferia um tom sombrio à antiga rua calçada com paralelepípedos pala qual ele passava. O chão estava molhado, devido à forte chuva que caíra horas antes. A rua não era cuidada havia muito tempo, o que se podia notar pelas plantas que teimavam em nascer por entre as frestas dos paralelepípedos. Nos dois lados da rua havia antigos muros formados por grandes rochas de granito, por entre as quais cresciam colônias de musgos.

O silêncio era total. Apesar de andar cuidadosamente, Rafael podia ouvir claramente o som de seus passos. Por um instante, ele imaginou até que era possível ouvir as batidas do próprio coração. Atrás dos muros havia terrenos nos quais cresciam grandes árvores, e, a cada vez que uma brisa soprava, era possível ouvir o som das gotas de água que tinham ficado sobre as folhas caindo por entre as árvores. Atrás de um dos muros corria um pequeno riacho, cujo som completava a atmosfera lúgubre do lugar.

Era por essa rua que Rafael passava todos os dias quando voltava para casa, mas o nevoeiro, o silêncio, a umidade, tudo isso conferia um tom lúgubre ao lugar, diferente de tudo o que ele já experimentara, e que fez com que ele se sentisse completamente sozinho. Ele nunca tinha tido ninguém, nunca tinha tido um amor verdadeiro, mas até aquele momento isso para ele tinha sido uma vantagem. Não ter ninguém para lhe aborrecer, ninguém com quem precisasse preocupar. Vinte e dois anos de vida bem vividos! Diversão, bebida e mulheres! Uma noite e adeus! Era assim que Rafael sempre tinha pensado até aquele momento.

Ao sentir sua solidão infinita, Rafael parou. Respirou, sentindo o cheiro de terra molhada que vinha dos terrenos atrás dos muros. Olhou para as grandes árvores, que sumiam atrás do nevoeiro, e cujos grandes galhos se projetavam por cima dos muros e quase tocavam sua cabeça enquanto ele passava. Ouvindo os sons da natureza à sua volta, sentiu um estranho aperto no coração. Era um buraco que se abria. Um lugar para o amor, que até então nunca tivera espaço em seu coração. Uma angústia o afligiu, e ele sentiu fome de amor. Pela primeira vez nada vida. Naquele momento, a chuva voltou a cair e Rafael sentia cada gota que batia em sua face, e a água que escorria pelo seu corpo parecia levar embora todo o seu passado despreocupado e feliz.

Depois daquele dia, Rafael nunca mais foi feliz novamente. Continuou se divertindo, bebendo e encontrando mulheres. Mas nenhuma era capaz de preencher o vazio em seu coração. A cada dia o buraco parecia ficar maior. E quanto mais o buraco crescia, mais difícil parecia para Rafael que alguém poderia um dia aparecer para preenchê-lo com amor infinito e verdadeiro.

Ele passou a se comportar de maneira estranha. Estava mais quieto, se distanciou dos amigos. Até que um dia foi encontrado morto, naquela mesma rua onde tudo começara. Não havia nenhum sinal de violência. Também nenhuma indicação de que ele poderia ter cometido um suicídio. O que todos estranharam, no entanto, foi que havia um estranho sorriso em sua face...

sábado, novembro 16, 2002

Sonho

Antes de falar do sonho, tenho que falar do conto O Nevoeiro, do Stephen King.. Neste conto, um forte nevoeiro toma conta de uma cidade após uma tempestade. Dentro deste nevoeiro existem criaturas monstruosas, como insetos e aranhas gigantes e monstros com tentáculos, que devoram tudo o que podem encontrar. Algumas pessoas que estavam dentro de um supermercado na hora que o nevoeiro chegou sobrevivem, mas enfrentam o dilema de como sair dali em segurança.

No meu sonho, eu também estava dentro do nevoeiro. Mas ao invés de estar no supermercado, eu estava em casa. A minha casa estava toda fechada, portanto as criaturas não podiam entrar e estávamos em segurança. Mas pelo que entendi do sonho já estávamos lá a vários dias, porque minha irmã estava quase morrendo de inanição (a comida já tinha acabado a muito tempo). Não me lembro se conseguimos escapar do nevoeiro no final.

sexta-feira, novembro 15, 2002

Sonho

Sonhei que estava no quintal de casa, mas haviam muitos filhotes de jacaré tentando morder meu pé. Fuji para a rua e lá encontrei alguns cientistas, que me disseram que estavam usando o quintal da minha casa para aplicar um remédio em pessoas loucas, o qual lentamente (depois de vários e vários dias) as transformava em jacarés. Segundo a explicação deles, essa era a única forma de aliviar seu sofrimento, pois, na condição de jacarés, estas pessoas loucas não sofreriam com a própria loucura. Meu irmão estava lá, e já estava num estágio intermediário da transformação. Porém neste estagio intermediário sua aparência não tinha nada de jacaré, ele estava parecendo um homem das cavernas, todo cabeludo e cheio de pelos. Lá também estava, duas mulheres-jacaré, que também estavam passando pela transformação. Uma também parecia uma mulher das cavernas, enquanto a outra era um jacaré com rosto de gente. Meu irmão estava se enamorando da primeira, mais parecida com ele.

Não sei por quê mas eu achei tudo aquilo muito normal durante o sonho, e me parecia óbvio que pessoas loucas deveriam ser transformadas em jacarés para aplacar o próprio sofrimento.
Eu sou viciado em amor. Não que eu seja carente. Me sinto completamente à vontade sozinho, e para dizer a verdade, eu muitas vezes prefiro ter apenas a minha própria companhia. Antes só do que mal acompanhado - e me desculpem o lugar comum.

Mas a sensação de ser amado é melhor do que qualquer sensação física. Comer é bom, sexo é muito bom. Mas amar e ser amado é muito melhor. Só quem teve a sensação de ser um só junto com sua amada (ou amado) sabe do que estou falando.

Quem ama nunca está sozinho, mesmo quando está longe do objeto do seu amor. Ainda mais hoje em dia, o amor pode estar à distância de um telefone ou um enter no teclado do computador.

O amor não comporta o ciúme, porque o ciúme aparece quando a pessoa acha que é dono da outra. Você pode sentir ciúme do seu carro ou dos seus livros, mas não do seu amor. O amor de verdade supõe confiança.

O amor te faz querer ser uma pessoa melhor.
Faz um ano que nós terminamos. E faz um ano que não se passa um dia sem que eu pense nela.

Como dizia Dom Raulzito: "Hoje eu sei que ninguém nesse mundo é feliz tendo amado uma vez".

quinta-feira, novembro 14, 2002

E a coleção Obras Primas vai publicar o livro A Metamorfose, de Kafka, no qual eu me baseei para escrever o post abaixo. Recomendo para todo mundo que gosta de boa literatura.

A propósito, a coleção toda é sensacional. Os livros são impressos em papel Off Set e são encadernados em capa dura. Só para você ter uma idéia, já foram publicadas obras de Cervantes, Victor Hugo, Dante, Tolstoi e Dickens, só para citar alguns. Estou lendo atualmente Crime e Castigo de Dostoievski, que foi publicado numa edição enterior. Quando eu acabar eu escrevo uma resenha aqui, mas já posso ir adiantando que é o melhor livro que já li. E pensar que eu achava o o Stephen King um grande escritor. :o)

quinta-feira, novembro 07, 2002

A Metamorfose - II
Ou Kafka ao avesso
Ou A História Secreta de um Galã

Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Reynaldo Gianecchini deu por si transformado em um galã de novela. Estava deitado de costas, e, ao levantar um pouco a cabeça, pôde ver o peitoral desenvolvido, bem diferente do que tinha visto no espelho na noite anterior. Por um segundo, Reinaldo imaginou estar sonhando. Levantou novamente a cabeça, e viu os braços, musculosos, que também eram completamente diferentes dos braços mirrados que tivera durante toda a vida.

Que me aconteceu? - pensou. Olhou em volta - estava no mesmo velho quarto no qual dormira na noite anterior, com as mesmas paredes já um pouco encardidas pelo tempo. Se encontrava deitado na mesma cama de casal na qual sempre dormia, sozinho. Achou estranho que estivesse enxergando tão bem, apesar de não estar usando óculos. Por instinto, pegou os grossos óculos de míope que deixara na mesa de cabeceira e os colocou, surpreendendo-se ao perceber que realmente não estava mais míope e que os óculos lhe eram completamente inúteis.

Levantou-se e dirigiu-se ao banheiro. Olhando-se no espelho, viu que seu rosto mudara completamente. As espinhas e as olheiras desapareceram, e o nariz adunco tinha dado lugar a um nariz proporcional e alinhado ao resto da face. O queixo tão pequeno, que o deixava parecido com uma caricatura, dera lugar a um queixo quadrado. Observando sua nova face, Reynaldo não pode esconder um sorriso, e ao sorrir, percebeu que os dentes estavam brancos e alinhandos, em contraste com os dentes amarelados e encavalados que tinha anteriormente.

um início de euforia tomou conta dele, mas logo foi substituída por uma preocupação. "Como vou ao trabalho hoje?" - pensou. "Ninguém vai acreditar que sou eu mesmo. De fato, toda a minha vida está arruinada. Meus documentos com fotos nada valem. Até minha impressão digital deve ter mudado!". Com esse pensamento em mente, Reynaldo abriu a velha torneira de metal, deixando a água escorrer pela pia branca, tão velha que podia-se ver as pequenas rachaduras em sua superfície, típicas de cerâmicas antigas. Como que querendo que tudo aquilo voltasse atrás, Reynaldo jogou água no rosto para ver se acordava daquilo que começava a parecer-lhe um pesadelo. Ao olhar seu rosto novamente no espelho, entretanto, percebeu que nada mudara e que continuava bonito. Reynaldo nunca imaginara que acordar bonito um dia poderia lhe causar tantos problemas, antes mesmo de sair de casa.

Reynaldo voltou para o quarto e, sentindo seu estômago roncar, lembrou-se que a geladeira e a despensa estavam vazias. Resolveu, então, descer e comprar algo para comer. Abriu o armário, e se deu conta que todas as suas camisetas estavam pequenas agora, pois foram compradas para caber no seu corpo antigo, pequeno e franzino. Vestiu a maior regata que encontrou, e mesmo assim ainda lhe pareceu que estava meio justa ao corpo. Encontrou um short largo que ganhou a muito tempo atrás de uma tia que só o via uma vês por ano, no natal, e sempre lhe dava roupas do tamanho errado. Cueca nem pensar. Nenhuma delas caberiam. Vestiu apenas o short, calçou um chinelo que ficou pequeno em seu pé, pegou sua carteira e desceu.

Ao chegar ao térreo, o porteiro o viu e disse: "bom dia, seu Reinaldo!". Isso o deixou ainda mais intrigado, e, ao mesmo tempo, eufórico. Queria dizer, então, que as pessoas o estavam reconhecendo com a sua nova aparência nova! Fantástico! Reynaldo não conseguiu nem responder, limtando-se a um gesto com a mão.

Foi rapidamente à padaria, mal conseguindo conter a emoção. Ao chegar lá, notou que as balconistas os observavam e cochichavam, escondendo os risos. Chegou perto delas e por um instante lhe pareceu que as duas se empurravam para ver qual delas o atenderia. Ele olhou envergonhado para uma das duas e pediu, gaguejante: "Me-me dá 3 pãezinhos e u-um litro de leite", surpreendendo-se com a própria voz, que não era mais anasalada como antigamente. Pegou os pacotes, pagou a conta no caixa e voltou para casa.

Enquanto passava pela portaria o porteiro novamente o cumprimentou: "ê seu Reynaldo, o pãozinho tá fresquinho?". Reynaldo apenas sorriu e entrou no elevador. Enquanto a porta estava fechando, ele ouviu o porteiro gritar lá de fora: "Seu Reynaldo, a sua esposa já voltou!".

"ESPOSA???" - pensou. Só lhe faltava essa! Estava radiante. Como seria essa esposa? Devia ser linda. Uma deusa, talvez parecida com a Ellen Roche ou com a Sharon Stone. Ao chegar no seu andar, ele correu para o apartamento e, ao entrar, ouviu um barulho de chuveiro. Correu para o banheiro, e entrou. O Boxe estava com o vidro embaçado, e ele só pode ver o vulto de uma mulher alta e loira tomando banho. Só de ver aquele vulto nu, Reynaldo ficou até excitado. Falou: "querida, cheguei!", enquanto abria a porta do boxe. Ao olhar para a sua esposa, no entanto, Reynaldo levou o maior susto da sua vida, e desmaiou.

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Reynaldo estava flutuando num lugar escuro. Apesar de escuro, o lugar onde estava não era frio. A temperatura era agradável, mas para qualquer lado que olhasse, Reynaldo via apenas a escuridão. De repente, ele viu uma luz se aproximando, ao longe. Conforme a luz se aproximava, ele pode perceber que havia uma figura humana lá dentro. Quando ela chegou perto, ele pode perceber que era uma mulher, muito bonita, a verdadeira personificação da beleza. Sua presença lhe confortava. Ela lhe olhou, sorrindo, e disse, numa voz melodiosa que soava como música aos seus ouvidos:

"Reynaldo, eu sou seu anjo da guarda. Não tenho muito tempo por isso vou ser breve. Eu te acompanho desde que nasceu e sei que seu sonho sempre foi ser um galâ de TV, e sei também que você sempre sofreu por causa da sua aparência. Eu, como seu anjo da guarda, procurava maneiras de poder lhe ajudar mas você deve bem saber, do jeito que você era feio, ficava muito difícil. Mas ás vezes o nosso Pai resolve interceder pela gente, e ele me permitiu que eu lhe transformasse num homem bonito.'

'Você vai ser o homem mais bonito do Brasil, Reynaldo. As mulheres vão babar por você. Você vai ser um bem sucedido galã de novela e vai contracenar com as mais belas atrizes da Tv. Você vai ter a vida que sempre sonhou.'

'Mas tudo isso não poderia vir de graça, e nosso pai tem senso de humor. Por isso ele decidiu que você poderia se tornar um galã, mas com uma condição: você teria que ser casado com a Marília Gabriela. As condições dele são essas: fique com ela e você continua sendo um galã. Separe-se e você vai voltar a ser baixinho, franzino e feioso. A escolha é sua".

Nisso Reynaldo acordou. Olhou para cima e a Marília Gabriela sorria para ele, falando: "O que houve meu amor, desmaiou? Deixa eu dar um beijinho que passa!".

E até hoje Reynaldo tem saudades do tempo em que era feioso.

terça-feira, novembro 05, 2002

A Menina do Violino

No ônibus que eu pego para ir para casa tem uma menina que sempre leva uma caixa de violino. Nem sempre eu a vejo; mas quando isso acontece ela faz o meu dia valer à pena. Não que a menina do violino seja especialmente bonita. Se eu a visse na rua, ou se ela fosse minha colega de faculdade, seria apenas mais uma menina. Mas ela carrega uma caixa de violino, o que faz dela uma menina especial, lhe traz uma mágia própria que só têm as meninas que tocam violino.

Nós nunca trocamos uma palavra. No máximo, alguns olhares. Não sei o seu nome, ou quantos anos tem. Nunca ouvi sua voz, nunca senti seu cheiro, nem mesmo a vi sorrindo. Também não importa, porque já fantasiei tudo isso.

Nos meus sonhos, ela vai todo dia para o conservatório de música, onde pratica violino sozinha, por horas a fio. Em seguida, ela guarda o instrumento e sai para pegar o ônibus. Na rua, bebe um suco, porque meninas que tocam violino não bebem refrigerantes, que têm muito açúcar e muito gás. Esperando o ônibus, num ponto da cidade grande, em meio ao trânsito e ao barulho, a menina que toca violino sempre consegue apreciar o vôo de um passarinho solitário ou as folhas que caem de uma velha árvore. Ás vezes, quando não está atrasada, ela pára para admirar um singelo canteiro de flores, e talvez nessas horas ela veja os pequenos insetos, besouros e joaninhas, que vivem sobre as folhas.

Em casa, a menina do violino lê, deitada no sofá. Ela não perde tempo com televisão. Também não fica pendurada no telefone. Ela não é de falar muito, e quando o faz, é devagar e sempre em um tom baixo, porque meninas que tocam violino nunca gritam. A menina do violino dorme de bruços, só de calcinha e camiseta, e quando acorda fica com uma preguiça enorme de sair da cama. Ela sempre dorme sozinha. A menina do violino ainda é daquelas que acreditam que um dia vão encontar um grande amor.

Eu amo a menina do violino, como amei muitas mulheres com as quais eu nunca falei. Mas essas mulheres que amei, existem apenas nos meus sonhos. Se um dia eu me apresentar a alguma delas, todo o encanto vai se quebrar. Por isso eu as amo de longe. E sou muito feliz por ama-las assim.
O amor deixa muito a desejar....
Arnaldo Jabor

Fui ver o lindíssimo filme do Pedro Almodóvar, “Fale com ela”, e saí pensando num conto da Carson McCullers, onde um homem conta que, antes de amar de novo uma mulher, ele estava aprendendo a amar as pedras, as árvores, as nuvens... Nesse grande filme de Almodóvar, vemos amores raros, feitos de entrega, feitos de compaixão, como uma “doação ilimitada a uma completa ingratidão”, como escreveu Drummond, aliás, o poeta do amor impossível, que é o único e verdadeiro amor.

A vitória do Lula também foi uma fome de amor política contra a era da técnica racionalista. Seu governo pode virar até um crime passional ou um folhetim melodramático, mas, hoje, é um grande desejo de happy end para todo o povo. Por isso, pergunto: onde anda o amor? Até isso o mercado estragou?

Sim. O amor já teve um toque sagrado, a magia de uma inutilidade deliciosa, já foi um desafio ao dia-a-dia que nos tirava da vida comum. Hoje o amor, como tudo, está perdendo a transcendência. Não existe mais o amante definhando de solidão, nem romeus nem julietas, nem pactos de morte, não existe mais o amor nos levando para a uma galáxia remota, não existe mais a simbiose que nos transportava a uma eternidade semi-religiosa. O amor tinha uma fome de bondade, de compaixão pelo outro, de proteção à pessoa amada. Isso está acabando. O amor já foi analisado por todas as ciências, a psicanálise mapeou as loucuras que estão sob sua poética, o ritmo do tempo atual acelerou o amor, o dinheiro contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. Hoje, temos controle, sabemos por que “amamos”, temos medo de nos perder no amor e fracassar no mercado. O amor pode atrapalhar a produção.

Por isso, o filme de Almodovar é tão belo e oportuno. Temos de fazer filmes assim, cheios de amor, sem efeitos, sem denúncias. Se eu, um dia, filmar de novo vai ser para celebrar o silêncio dos amantes ou a beleza do inútil. O amor perdeu a gratuidade, as pessoas “amam” por desejo de ter um amor que não sentem mais. O amor não tem mais porto, não tem onde ancorar, não tem mais a família nuclear para se abrigar, não tem mais a utilidade do sacrifício pelo “outro”. O amor ficou pelas ruas, em busca de objeto, esfarrapado, sem rumo. Não temos mais músicas românticas, nem o lento perder-se dentro de “olhos de ressaca”, nem nas “pernas de Fulana”, nem temos as bocas beijadas por amantes tutti tremanti , nem o formicida com guaraná. Não se diz mais: “Deus sabe quanto amei!...”, mas “Deus nem sabe quantos(as) amei...”

A publicidade devastou o amor, falando na “gasolina que eu amo” (“Shell que j’aime”), no sabonete que faz amar, na cerveja que seduz. Há uma obscenidade flutuando no ar o tempo todo, uma propaganda difusa do sexo impossível de cumprir. Como comer todas as moças da lingerie e do xampu, como atingir um orgasmo pleno e definitivo? A sexualidade total, por si só, levaria a uma assexualização desértica. A sexualidade é finita, não há mais o que inventar. Já o amor, não... O amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega. Ser impossível é sua grande beleza. Claro que o amor é também feito de egoísmos, de narcisismos mas, ainda assim, ele busca uma grandeza — mesmo no crime de amor há um terrível sonho de plenitude. Amar exige coragem e hoje somos todos covardes.

Mas, hoje, o mercado exige a satisfação total no amor ou o dinheiro de volta. Como isso é impossível, deriva para o sexo ou a para sedução. O amor passa a buscar não mais uma entrega, mas um domínio. O amor vira um objeto de consumo, fast love, com obsolescência programada para durar pouco. O amor deixa muito a desejar. Em geral, o amor existe hoje como uma espécie de adoçante para justificar, legitimar uma tesão ou uma conquista. Os amores duram três edições de “Caras”. Os casais se permutam num troca-troca rápido e quantitativo. As próprias mulheres estão virando “D. Juans”. Vejam o périplo de jovens atrizes que vão comendo, um por um, os modelos que surgem nas revistas, elas, que deviam se manter damas inatingíveis para pálidos quixotes românticos.

Estamos com fome de amor cortês, num mundo em que tudo perdeu aura. O terrível bombardeio que a cultura americana está fazendo nos sentimentos é invisível, mas é pior que as bombas contra o Iraque. A cultura americana está criando um “desencantamento” insuportável na vida social. Tudo é tolerável, num arrasamento de mistérios. Vejam a arte tratada como algo desnecessário, sem lugar, sem uso, vejam as mulheres amontoadas na internet, nuas, com números — basta clicar e chamar. Estamos com fome de infinito em tudo, na vida, na política, no sexo. Por isso, o filme de Almodovar, cheio de compaixão sussurrada, apoiada na trêmula beleza dos balés de Pina Bausch e no Caetano cantando um pranto dolorido, parece um segredo religioso, uma saudade inexplicável de alguma coisa que existe “aquém”, antes da vida.

Nos anos 60, liberdade sexual foi uma questão polÍtica. Hoje, podemos tudo, podemos casar até com jacarés ou macacas, sem escândalos, desde que não prejudique a produção. Mas o que invisivelmente está virando uma nova necessidade política é o amor e seus subprodutos: compaixão, paz, justiça.

Aposto que virá aí um novo desbunde, um novo movimento hippie, sem utilidade, mas sem melancolia autodestrutiva, vêm aí marchas pelo amor, porque ninguém está agüentando mais somente “utilidade” e “desempenho”, poder e sucesso. Estamos virando coisas. Precisamos aprender a amar de novo as pedras, as árvores, as nuvens, até chegarmos a nós mesmos... E acho que isso vai surgir na América, como foi nos anos 60 — a luta pelos direitos civis será agora a luta pela beleza da inutilidade.